Lisboa – Cidade da Arte de Rua
Lisboa é uma cidade no litoral português que combina com maestria ideias modernas com o charme do velho mundo. Lisboa é um centro mundial da arte de rua, embora…
Veneza é uma cidade de água e pedra, moldada a partir de um conjunto de 118 ilhas à deriva em uma lagoa rasa do Adriático. Como observa a UNESCO, foi "fundada no século V" neste arquipélago e, no século X, tornou-se "uma grande potência marítima". Na época medieval, as galeras venezianas em condições de navegar asseguravam rotas comerciais através do Mediterrâneo: seda, especiarias, metais e até mesmo sal do Oriente passavam por Veneza a caminho da Europa. Ao se aproximar de Veneza pelo mar aberto, o visitante se impressiona com a visão de cúpulas e torres reluzentes que se erguem da água – um lembrete de que toda esta cidade já governou um império marítimo de "poder inigualável". Ao longo dos séculos, a República de Veneza construiu postos avançados fortificados e enclaves econômicos de Creta a Corfu, e sua riqueza é visível nas igrejas e palácios ricamente decorados que margeiam os canais.
A própria estrutura de Veneza reflete seu berço aquático. Longas fileiras de estacas de madeira foram cravadas na lama aluvial, sustentando edifícios de tijolos revestidos com calcário Ístria claro e pedras coloridas. No inverno, as marés altas ocasionalmente inundam ruas baixas, e passarelas elevadas de madeira (passerelle) são colocadas na Praça de São Marcos.
Fora isso, a vida na lagoa se desenrola de barco e a pé. Gôndolas, balsas de traghetti e vaporetti (ônibus aquáticos públicos) percorrem os canais do amanhecer ao anoitecer, enquanto moradores e comerciantes atravessam a cidade por uma rede de ruas estreitas e pontes. Por lei, carros não entram no centro histórico, tornando Veneza uma das maiores cidades para pedestres do mundo.
No coração de Veneza fica a Piazza San Marco, a praça cerimonial da cidade. Aqui, o esplendor medieval e renascentista encontra a brisa do mar. Dominando um lado da praça está a Basílica de São Marcos, uma catedral com influências bizantinas, com cinco cúpulas e inúmeros mosaicos. Sua fachada é adornada com mármore e ouro, e até mesmo os famosos cavalos de bronze dourado no topo da basílica foram saqueados de Constantinopla durante as Cruzadas.
O outro lado da praça é adornado pelo Palácio Ducal (Palazzo Ducale), um vasto palácio de mármore rosa e branco em estilo gótico veneziano. Antiga sede do Doge (o principal magistrado eleito de Veneza) e núcleo do governo, o palácio é fronteado por uma elegante arcada de arcos ogivais e galerias abertas. Sua silhueta – paredes de pedra multicoloridas sob uma arcada de traceria – exemplifica o híbrido gótico oriental-ocidental que floresceu aqui.
Atrás do Palácio Ducal, à beira d'água, a Porta della Carta e a Ponte dos Suspiros relembram a antiga glória e penitência de Veneza. À luz do entardecer, a fachada sul do palácio – cintilante em rosa e branco – debruça-se sobre as águas da lagoa, um quadro que pintores venezianos, de Canaletto a Turner, imortalizaram em tela. Foi esta "extraordinária obra-prima arquitetônica", como a chama a UNESCO, que inspirou gerações de artistas como Bellini, Ticiano e Tintoretto. De fato, o patrimônio construído de Veneza é incomparável: do menor palácio ao longo do canal à maior basílica, "até o menor edifício contém obras de alguns dos maiores artistas do mundo".
O comércio leste-oeste ainda pulsa sob as pontes de Veneza. O Grande Canal serpenteia pela cidade em forma de S, ladeado por palácios de dois séculos. Gôndolas, barcos de entrega e vaporettos percorrem esta "rua principal" sobre a água, sob o olhar atento da Ponte de Rialto. A Rialto é a ponte de pedra mais antiga sobre o canal, construída no final do século XVI para substituir uma série de travessias de madeira. Projetada por Antonio da Ponte, ela se ergue em um único vão de pedra branca da Ístria.
Hoje, seu amplo deck de pedra abriga duas fileiras de pequenas lojas que ladeiam três ruas de pedestres, um cenário que pouco mudou desde o Renascimento. Durante séculos, foi a única travessia fixa do Grande Canal em Veneza, ligando o movimentado mercado de Rialto ao bairro cívico e mercantil ao redor de San Marco. Mesmo hoje, vendedores ambulantes vendem frutas e peixes salgados perto de San Giacomo di Rialto, mantendo viva a tradição do canal como centro de comércio diário.
Além desses pontos turísticos, Veneza é dividida em seis sestieri ou distritos, cada um com sua própria personalidade. Ao sul de San Marco fica Dorsoduro, um bairro artístico e acadêmico, lar da imponente igreja barroca de Santa Maria della Salute (construída após uma peste no século XVII) e das galerias da Accademia. Ao norte fica Cannaregio, um bairro mais tranquilo com cafés à beira do canal e o histórico Gueto de Veneza – o primeiro bairro judeu da Europa, datado de 1516. A oeste de San Marco fica San Polo, ancorado pelos mercados de Rialto e pontilhado de igrejas menos conhecidas.
Ainda mais a oeste, fica Santa Croce, o bairro com a atmosfera mais moderna, onde a Piazzale Roma marca o único terminal rodoviário da cidade e a agitação urbana dá lugar a vielas de paralelepípedos. A leste, Castello se estende – o maior distrito da cidade – desde os estaleiros do Arsenale (antigamente os estaleiros da república, que empregavam milhares de pessoas) até as vielas tranquilas dos jardins da Bienal de Veneza. Cada sestiere é interligado por dezenas de pontes à beira do canal, desde vãos de pedra ornamentados até simples passarelas de madeira, conectando as sinuosas "ruas" de água de Veneza em um todo harmonioso.
A arquitetura de Veneza é, em si, um testemunho de sua história. Seu estilo é uma fusão do Oriente e do Ocidente. O gótico veneziano – melhor observado no Palácio Ducal e no chamado Ca' d'Oro – mistura arcos ogivais com padrões bizantinos e até islâmicos. Arcos ogivais intrincados, traceria quadrifólio e cordas de pedra colorida lembram os contatos comerciais da cidade com os bizantinos e sarracenos. Por trás das grandes fachadas, os cômodos costumam ser simples: tetos planos com vigas de madeira sobre paredes de tijolos, já que as abóbadas podem rachar à medida que Veneza se acomoda sobre suas estacas.
No entanto, ao ar livre, Veneza esbanja ornamentos em varandas, janelas e portais – em todos os lugares, buscando aproveitar ao máximo sua densa paisagem. Mesmo os palazzi renascentistas, relativamente austeros, conservam uma lembrança do gótico em suas janelas em arco e mármore estampado. No século XIX, esse legado cosmopolita inspirou um renascimento gótico na Grã-Bretanha (famosamente defendido por John Ruskin), após o qual o estilo veneziano desfrutou de um breve renascimento próprio.
Além do estilo, a infraestrutura física da cidade é única. Nenhum veículo rodoviário invade os canais: as entregas chegam por barcaças e barcaças de lixo percorrem os canais internos. Uma vez por verão, a cidade ainda agita a "acqua alta" (maré excepcionalmente alta) ao longo da Riva degli Schiavoni e na Praça de São Marcos. Nesses momentos, os venezianos calçam botas de borracha até o joelho e erguem suas passarelas novamente.
No inverno, ensopados de frutos do mar substanciosos fervilham em fogueiras a lenha em cozinhas abertas em canais estreitos; no verão, gondoleiros listrados escoltam casais por calli sombreados por árvores. A vida veneziana permanece enraizada em seu terreno aquático. Até mesmo o posto de saúde municipal tem um barco em vez de uma ambulância, e um barco transporta o carro funerário para os enlutados através de um canal em funerais. Em uma cidade "que parece flutuar sobre as águas da lagoa", como observa a UNESCO, o cotidiano é uma dança intrincada entre a terra e o mar.
O calendário de Veneza reflete sua história: cada estação traz um espetáculo cultural. No inverno, o Carnevale di Venezia desperta a cidade em um turbilhão de máscaras e fantasias. Datado pelo menos desde o Renascimento, o Carnaval foi proibido durante o domínio napoleônico e revivido apenas em 1979. Hoje, é "famoso em todo o mundo por suas fantasias e máscaras elaboradas". Nas semanas que antecedem a Terça-feira Gorda, foliões mascarados lotam a Praça de São Marcos e saraus secretos acontecem em palácios e corti; bailes barrocos veem velas brilharem em salas douradas. Crianças patinam em segurança nos canais estreitos sob os rostos atentos das pietas venezianas; rajadas de confete flutuam sobre a Ponte dei Pugni e passos ecoam nos paralelepípedos polidos, enquanto até mesmo os turistas se juntam à alegria.
Na primavera e no verão, os próprios canais se tornam palcos cerimoniais. Todos os anos, no Dia da Ascensão, a cidade comemora seu simbólico Sposalizio del Mare ou "Casamento do Mar". Este ritual medieval homenageia o vínculo de Veneza com o mar: uma réplica da antiga galé estatal (a Bucintoro) navega para a lagoa com o prefeito a bordo. No momento da maré alta, um padre abençoa o anel de ouro do doge (agora prefeito) e o joga na água, "estabelecendo o domínio de Veneza sobre o mar" em um gesto inalterado desde o século XII. O festival é tanto um espetáculo quanto uma oração, com dezenas de barcaças e gôndolas tradicionais em trajes completos acompanhando a procissão.
O final de julho traz a Festa del Redentore na ilha de Giudecca, uma celebração nascida da gratidão pelo fim de uma peste. Em 1577, após uma epidemia devastadora, o Senado veneziano prometeu construir a Igreja do Redentor (Il Redentore) se a doença diminuísse. Todos os anos, no terceiro fim de semana de julho, milhares de venezianos cruzam a ponte flutuante temporária construída para Giudecca. Famílias fazem piqueniques à luz de velas sob a cúpula barroca da igreja e, às 23h30, uma magnífica queima de fogos de artifício irrompe sobre o Bacino di San Marco. Como observa um relato moderno, o Redentore é "imerso em tradição": um "festival religioso e popular" que mistura missa solene e vigílias à luz de lanternas com jantares comunitários ao longo das muralhas do cais. Ainda hoje, os venezianos param para uma missa da meia-noite ou agradecem pela libertação de uma calamidade, mantendo vivo o vínculo entre a fé e a vida cívica.
No primeiro domingo de setembro, a Regata Storica transforma o Grande Canal em um hipódromo medieval. Há muito tempo, a marinha veneziana consagrou a destreza no remo como uma questão de Estado, e hoje o remo competitivo continua sendo motivo de orgulho. A Regata Storica é "sem dúvida um dos eventos anuais mais populares de Veneza", segundo os guias turísticos da cidade. À tarde, o desfile histórico parte da Bacia de São Marcos em direção a Rialto: barcos ornamentados de fundo chato transportam agitadores de bandeiras e músicos fantasiados, ecoando as galés de guerra e as barcas mercantes de Veneza de outrora. Atrás deles, vêm elegantes gôndolas de corrida, mascaretes e pupparini (barcos tradicionais venezianos), com atletas em camisas listradas brilhantes alternando rajadas de braçadas rápidas. Aplausos ecoam das margens e pontes; para os venezianos, a regata é um elo vivo com seu passado marcial. (Coincidentemente, a própria palavra regata é veneziana, mais tarde adotada em francês e inglês, originária do italiano “riga”, uma linha de barcos.)
No final do outono, a frenética temporada turística já passou, e Veneza se volta para atividades culturais tranquilas. A Bienal de Veneza – a principal exposição de arte contemporânea do mundo – enche os complexos Giardini e Arsenale com instalações de vanguarda a cada dois anos, de abril a novembro. Fundada em 1895, a Bienal atrai atualmente mais de meio milhão de visitantes de todo o mundo. Paralelamente à mostra de arte, acontecem a Bienal de Arquitetura (anos ímpares) e o Festival de Cinema de Veneza, no Lido. Esses eventos nos lembram que Veneza hoje não é apenas uma relíquia: ela continua sendo uma fonte de criatividade e experimentação. Artistas internacionais competem para expor nos pavilhões do palácio, enquanto a dança e a música experimentais preenchem igrejas e espaços de squero (estaleiros). Muitas das conversas culturais contemporâneas mais significativas passam por Veneza nesses anos, dando continuidade ao papel milenar da cidade como ponte entre mundos.
Perhaps the greatest expression of Venetian culture is found in the simplest pleasures of daily life: its food and drink. With its lagoon teeming with crab, cuttlefish and branzino, Venetian cuisine is famously seafood-based. Crisp risotto al nero di seppia (cuttlefish ink risotto) or baccalà mantecato (creamed dried cod) can be found on almost any menu. Venice has its own twist on pasta too – bigoli, thick whole-wheat spaghetti often served with sardines and onions. Above all, locals love their cicchetti – pint-sized snacks served in the ubiquitous bacari (wine bars). As a recent article in Vogue notes, Venice’s “foodie traditions” include “tiny prawns fresh from the lagoon” and cicchetti… found in Venetian bacari… [Venice’s] centuries-old answer to tapas. These colorful finger foods – fritters of rice or polenta, marinated sardines on crusty bread, briny olives and deep-fried meatballs – are often eaten standing at the counter with a small glass of local wine. At sunset, Venetians spill into calli and canal-side tables, swapping ombre (glasses of wine) and biting into cicchetti as if it were the city’s very lifeblood. Visiting one of the city’s oldest bacari – places where tradesmen, gondoliers and artists mingle – is to taste Venice itself: insular yet open to the world through taste.
A vida religiosa de Veneza é tão rica quanto seus festivais seculares. Além do Redentor, a cidade venera a Madonna della Salute todo dia 21 de novembro. Nesse dia, multidões atravessam a ponte flutuante de barcos até a igreja abobadada da Salute em procissão devota, em homenagem à Virgem que, segundo a lenda, pôs fim à peste de 1630. Fora do centro da cidade, capelas antigas em Burano e Murano continuam a sediar festas locais nos dias santos, com direito a fogos de artifício e procissões. Toda primavera, as casas flutuantes e os barcos de pesca da lagoa juntam-se às procissões marítimas durante a Festa del Santissimo Redentore (o dia seguinte ao Pentecostes) em Castello, recriando peregrinos de séculos passados. Em tais cerimônias, a herança cristã de Veneza está inextricavelmente entrelaçada com a identidade cívica – como quando o Doge e o patriarca caminharam em conjunto por San Marco na Páscoa, ou quando pombas votivas lançadas sobre o campanário marcaram o fim de mais uma tempestade.
À medida que o dia se transforma em noite, as praças e os canais de Veneza ganham vida tranquila. Os habitantes da cidade, menos de 60.000 durante o dia, dão lugar ao anoitecer a 20 vezes mais fantasmas – mas vozes reais ainda ecoam ao longo da água. Os cafés em Campo San Polo fervilham de conversas enquanto os bondes do continente silenciam e as lâmpadas estreladas refletem nas pedras encharcadas. Um gondoleiro solitário traz para casa caixas de tomates para a salada do dia seguinte; pescadores percorrem as docas verificando suas redes. Em junho, a música ao ar livre de um concerto de Vivaldi ressoa de uma basílica na ilha; em outubro, o farfalhar dos convites dourados para a Bienal é ouvido nos desembarques dos vaporettos.
Veneza vive em camadas de tempo. É uma cidade onde a próxima geração de artistas e chefs convive com tradições que remontam à antiguidade. Foi construída, reconstruída e constantemente reinventada sobre as mesmas águas que um dia ameaçaram consumi-la – mas perdura, tanto por engenhosidade (as barreiras contra inundações MOSE e a substituição contínua de tábuas em suas fundações) quanto por pura força de vontade. O fascínio de Veneza é sua justaposição: memória e modernidade, decadência e grandiosidade. Em suas grandes igrejas e humildes bacari, em suas ruas aquáticas lotadas de turistas e em seus silenciosos canais secundários conhecidos apenas pelos moradores locais, sente-se toda a extensão dos séculos. "Nas águas de Veneza, história e memória se encontram", escreve um guia recente – e depois de um passeio ao pôr do sol à beira da lagoa, é impossível discordar.
Uma curta viagem de vaporetto a partir da cidade leva às famosas ilhas externas da lagoa veneziana. Murano é sinônimo de vidro veneziano. Um decreto de 1291 confinou os sopradores de vidro de Veneza a Murano – em parte para proteger Veneza dos incêndios – e o artesanato ainda floresce lá. Hoje, a ilha abriga dezenas de oficinas e estúdios de vidro, e o Museo del Vetro (Museu do Vidro), no Palazzo Giustinian do século XV, exibe a longa história da fabricação de vidro de Murano, da antiguidade aos dias atuais.
A igreja medieval de Murano, a Basílica de Santa Maria e San Donato, é uma peregrinação arquitetônica – uma fundação do século VII reconstruída no século XII – conhecida por seu amplo piso de mosaico bizantino e sua graciosa abside. Artesãos locais ainda produzem lustres, contas e objetos de vidro decorativos soprados à mão, mantendo as tradições ancestrais de Murano nas mesmas oficinas onde o artesanato evoluiu ao longo dos séculos.
A Basílica de Santa Maria e San Donato de Murano (séculos X a XII) – com seu famoso pavimento de mosaicos – ergue-se perto dos canais da ilha. Murano continua sendo o coração da herança vidreira de Veneza. A leste fica Burano, imediatamente reconhecível por suas casas de pescadores coloridas que margeiam canais estreitos. Esta ilha tranquila é famosa por suas rendas delicadas: a renda de Burano remonta ao Renascimento e foi revivida por uma escola oficial de renda no século XIX.
O Museo del Merletto (Museu da Renda) – instalado no antigo palácio do Podestà, na Piazza Galuppi – expõe rendas antigas e documentos históricos, que remontam o artesanato desde suas origens até os dias atuais. Mesmo hoje, as rendeiras locais continuam a produzir buratti e punto em renda ária em oficinas escondidas atrás de fachadas em tons pastel. (Os visitantes podem comparar peças modernas e comprar rendas artesanais, além de souvenirs, na loja cuidadosamente selecionada do museu.)
Entre Murano e Burano, a ilha de Torcello relembra os primórdios de Veneza. Na Antiguidade Tardia, Torcello já foi muito mais populosa do que Veneza, mas a população diminuiu ao longo da Idade Média até chegar a apenas algumas dezenas no século XX. Seu monumento mais importante é a Basílica de Santa Maria Assunta (fundada em 639), uma das igrejas mais antigas do Vêneto.
O exterior austero de tijolos da basílica leva a um interior sombrio e colunar coberto de mosaicos medievais. (Na abside, um impressionante mosaico da Virgem Maria do século XI transmite uma sensação de esplendor bizantino sobre fundo dourado.) A catedral de Torcello, com seu enorme poço no pátio, continua sendo um símbolo poderoso das raízes perdidas de Veneza: ainda hoje, ela parece quase solitária, cercada por pântanos e árvores.
Veneza é há muito tempo um ímã para artistas e escritores. Na pintura, a luz e a arquitetura da cidade provaram ser irresistíveis. Vedutistas do século XVIII, como Canaletto (Giovanni Antonio Canal, 1697-1768), imortalizaram os canais e palácios de Veneza em vistas panorâmicas extraordinariamente precisas; suas telas do Grande Canal e da Praça de São Marcos estabeleceram um padrão para a arte paisagística urbana.
Um século depois, JMW Turner (1775-1851) capturou o brilho atmosférico de Veneza em aquarelas e óleos românticos. Ele realizou três viagens (1819, 1833, 1840), atraído por sua "luz cintilante, beleza etérea e esplendor desbotado"; as vistas do pôr do sol de Turner em San Giorgio Maggiore e na lagoa são especialmente celebradas.
Até os impressionistas sucumbiram a Veneza: Claude Monet visitou a cidade em 1908 e produziu 37 telas de seus monumentos, pintando repetidamente o Palácio Ducal, Santa Maria della Salute e San Giorgio Maggiore sob luz variável.
Veneza também foi o berço da Escola Veneziana do Renascimento: os grandes mestres Ticiano (1488/90–1576) e Tintoretto (1518–1594) trabalharam aqui. Ticiano, frequentemente chamado de "o maior pintor da Veneza do século XVI", produziu obras-primas para o Palácio Ducal e igrejas.
Tintoretto (Jacopo Robusti) permaneceu em Veneza por toda a sua vida, pintando retratos dinásticos e cenas religiosas dramáticas – suas figuras musculosas e pinceladas ousadas lhe renderam o apelido de Il Furioso.
Escritores, por sua vez, ambientaram histórias marcantes em Veneza. O Mercador de Veneza (c. 1596), de Shakespeare, retrata a cidade como uma república movimentada do século XVI – "uma das únicas cidades europeias com uma população judaica considerável" na época, e um centro de comércio entre o Oriente e o Ocidente.
Na literatura moderna, a novela Morte em Veneza (1912), de Thomas Mann, narra a famosa obsessão espiritual de um escritor idoso por um rapaz durante sua estadia na cidade adriática. Henry James dedicou um capítulo de Horas Italianas (1909) a Veneza, reconhecendo seus palácios "decadentes" e seus impostos pesados, mas ainda evocando sua beleza compensatória.
Mais recentemente, Veneza tem sido o cenário durante todo o ano para os mistérios do Commissario Brunetti, de Donna Leon: esses romances policiais (originalmente em inglês) acompanham um detetive da polícia veneziana resolvendo casos pela cidade, com cada história revelando "outra faceta da vida veneziana" escondida atrás das fachadas douradas.
Em cada uma dessas obras, a própria Veneza é quase uma personagem – oferecendo imagens de palácios e canais, reflexos e decadência – que inspirou gerações de criadores.
O charme fotogênico da cidade a torna um local favorito para filmes e séries de TV. Os filmes de James Bond usam Veneza como um palco glamoroso: em Cassino Royale (2006), o herói desliza com seu par romântico pelo Grande Canal, passando por San Giorgio Maggiore, Salute e Rialto, e depois corre pela Piazza San Marco em busca de um espião traiçoeiro.
By contrast, Nicolas Roeg’s thriller Don’t Look Now (1973) embraces the city’s misty winter mood. The film explicitly sought Venice out of season, and it “explores in detail [its] moody canals and alleys, foggy with out-of-season winter melancholy.”
Outros filmes e séries – de Pane e cioccolata, de Hitchcock, às séries policiais italianas ambientadas nas ruelas labirínticas de Veneza – reforçam a imagem de Veneza como atemporal, romântica e, às vezes, sinistra. Até a televisão já utilizou o visual de Veneza; por exemplo, Doctor Who (2006) e dramas italianos ocasionalmente apresentam gôndolas e praças alagadas como cenários principais.
Em todos os casos, as praças públicas, as igrejas barrocas e os canais atemporais de Veneza acrescentam atmosfera instantânea e luxo (ou mistério) ao cenário.
Veneza continua sendo um paraíso para quem gosta de compras, com ênfase especial na gastronomia, no artesanato tradicional e na cultura boêmia local. Os mercados centrais da cidade exibem os produtos e a vida venezianos. Atrás da Ponte de Rialto fica o Mercado de Rialto, realizado em pavilhões de frutas e peixes desde a época medieval. Todas as manhãs, as barracas estão repletas de peixes da lagoa veneziana (pescados no mesmo dia) e vegetais coloridos, dando continuidade a uma tradição de quase dez séculos. Não muito longe dali, o Campo Santa Margherita fervilha com uma pequena feira de rua quase todas as manhãs: os moradores vêm para comprar frutas frescas, vegetais, queijos e produtos artesanais e, em seguida, relaxar tomando um café ou um spritz nos cafés ao redor da praça.
Boutiques e lojas fora das principais zonas turísticas vendem especialidades venezianas de todos os tipos. Nos bairros de San Marco e Mercerie, encontram-se lojas de moda e joalheria de luxo, mas igualmente icônicas são as boutiques e oficinas de artesanato. Murano e Burano se destacam novamente: as dezenas de lojas de vidro de Murano exibem vasos, contas e lustres soprados à mão (os visitantes podem frequentemente ver demonstrações através das vitrines). A renda de Burano continua sendo um artesanato cobiçado: o Museo del Merletto da ilha exibe rendas antigas raras, e ateliês locais ainda produzem rendas finas de agulha e as vendem em lojas que parecem galerias. As máscaras venezianas são outra tradição – muitos fabricantes de máscaras (maschereri) da cidade ainda confeccionam disfarces de papel machê ou couro no antigo estilo da commedia dell'arte.
Lembrancinhas gastronômicas incluem bacalhau mantecato (pasta de bacalhau) e biscoitos venezianos. Para o dia a dia, padarias artesanais, delicatessens de esquina e butiques italianas modernas (de joias de vidro de Murano a vestidos personalizados) atendem ao público local. Em suma, a cultura de compras de Veneza não se resume apenas a souvenirs, mas também a vivenciar uma tradição artesanal viva – seja escolhendo cicchetti fresco em um bacaro perto do mercado ou visitando uma galeria de vidrarias artesanais longe das multidões de turistas.
Por trás do encanto de Veneza, escondem-se desafios urgentes. A cidade sempre combateu as inundações causadas por águas altas, mas nas últimas décadas os eventos se agravaram. Veneza sofre com algumas inundações quase todos os anos, mais severas no outono e no inverno. Em resposta, o projeto de barreira contra inundações MOSE, há muito adiado, foi concluído em 2020: um sistema de comportas móveis que se erguem nas entradas da lagoa para conter as marés.
Em seus primeiros quatro anos de uso (2020-2023), o sistema MOSE já foi içado 31 vezes para evitar marés excepcionalmente altas. Embora tenha protegido a cidade em emergências, cientistas alertam que a elevação constante do nível do mar e as tempestades podem exigir o uso das barreiras com ainda mais frequência, o que, por sua vez, pode afetar a delicada ecologia da lagoa.
Veneza também enfrenta impactos humanos. A UNESCO e os conservacionistas há muito alertam para o turismo excessivo e a degradação ambiental. Em abril de 2021, a UNESCO elogiou a decisão da Itália de proibir a entrada de mega cruzeiros no canal histórico: alguns desses navios pesam até 40.000 toneladas e foram considerados como "comprometendo a lagoa de Veneza e seu equilíbrio ecológico". De fato, o turismo de cruzeiros e o turismo de massa foram explicitamente citados pela UNESCO como algumas das principais ameaças à estrutura da cidade.
Essas preocupações encontram dados: um relatório recente observa que o que era um número tolerável de 10 milhões de visitantes por ano no final da década de 1980 aumentou para 20 a 30 milhões anualmente na década de 2010, enquanto os residentes permanentes diminuíram para cerca de 80.000 (aproximadamente metade do número na década de 1950). A pausa da pandemia ofereceu um vislumbre do outro lado: sem turistas e navios de cruzeiro, Veneza parecia mais calma, mas sofria economicamente. Hoje, a cidade enfrenta um delicado equilíbrio entre preservar seu patrimônio e seu meio ambiente – do afundamento das fundações à poluição dos canais – e, ao mesmo tempo, acomodar as multidões que vêm ver suas maravilhas.
Visitar Veneza traz consigo responsabilidades especiais. A cidade é pequena e seu tecido histórico é frágil, e as autoridades locais têm regras rígidas de decoro. Por exemplo, alimentar os onipresentes pombos da Praça de São Marcos agora é ilegal (multas se aplicam). Visitantes também podem ser multados por violações comuns de etiqueta: guardas patrulham as praças impedindo que se jogue lixo, bebam água de garrafas, façam piqueniques nas escadarias da praça ou passeiem pelos monumentos sem camisa.
De forma mais ampla, espera-se que os viajantes se comportem com respeito: vistam-se modestamente em igrejas (ombros e joelhos devem ser cobertos na Basílica de São Marcos e locais semelhantes), falem baixo em becos residenciais (para evitar perturbar o silêncio) e nunca risquem ou marquem as pedras antigas. Também é aconselhável evitar desrespeitos aparentes: por exemplo, nunca subam em gôndolas que não sejam destinadas ao aluguel ou joguem moedas em canais aleatórios.
Em restaurantes e bares, a cortesia básica – ficar na fila do balcão, não dar gorjetas exageradas – faz toda a diferença. Ao observar essas normas e não deixar rastros (sem lixo, sem etiquetas nas paredes), os visitantes ajudam a sustentar a cidade viva. Acima de tudo, tratar Veneza como um lar frágil, em vez de um cenário para selfies, é a marca de um viajante verdadeiramente consciente.
As recompensas de Veneza muitas vezes estão além das páginas dos guias turísticos. Para vivenciar verdadeiramente a vida local, vale a pena passear pelos tranquilos sestieri, longe de San Marco e do Grande Canal. Como diz um guia local, "a verdadeira beleza de Veneza está nas ruelas tranquilas e nos pátios escondidos". Por exemplo, o longo canal Fondamenta della Misericordia, em Cannaregio, ladeado por casas pintadas de laranja e bacari, é muito menos visitado do que o centro de Veneza, mas frequentado por venezianos.
Pequenas ruas como a Varisco (uma das vielas mais estreitas da cidade) ou cantos menos conhecidos de Castello e Dorsoduro abrigam lojas modestas e a vida cotidiana. Nessas áreas, pode-se descobrir um campo isolado com um poço, um bacaro acolhedor onde os moradores pedem ombra (uma taça de vinho da casa) com cicchetti, ou uma oficina de artesanato que vende souvenirs artesanais.
Bares de vinho antigos e populares (bacari), como a Osteria alla Frasca ou o Al Timon (ambos em Cannaregio), são apreciados por sua atmosfera informal e comida autêntica. Da mesma forma, pequenas butiques artesanais – um estúdio de pintura de máscaras, uma encadernação em couro ou um ateliê de rendeiras – podem ser encontradas escondidas em ruas tranquilas. Mesmo um breve desvio por um canal silencioso ou para um campo isolado pode revelar o ritmo da vida cotidiana veneziana, desde roupas penduradas nas portas até crianças jogando futebol em um campiello.
Essas experiências escondidas em Veneza recompensam a paciência e a curiosidade mais do que qualquer grande espetáculo. Interagir com os moradores em um café do bairro, dar uma olhada em uma mercearia ou padaria local ou simplesmente relaxar em um banco de pedra à beira da água permite ao viajante sentir o pulso autêntico de Veneza.
Veneza recompensa a exploração cuidadosa. Não é uma cidade de emoções rápidas ou avenidas largas, mas sim de texturas em camadas – luz sobre a água, afrescos desbotados em uma igreja silenciosa, passos ecoando em vielas estreitas. Pode-se percorrer suas praças e canais muitas vezes e ainda assim sentir que cada visita oferece algo novo: uma mudança de luz ao amanhecer, uma gôndola escondida atracada em um canal sombreado, o eco de um sino de igreja sobre ruas vazias.
Ao contemplar uma fachada descascada ou sentar-se diante de um pequeno bacaro, fica claro que o apelo de Veneza reside tanto em seu caráter intangível quanto em seus monumentos. Viajar para cá é testemunhar uma cidade atemporal e mutável, mantida em equilíbrio entre arte e natureza. É também aceitar a responsabilidade de pisar com cautela.
No final, Veneza é melhor apreciada em silêncio — por aqueles que deixam sua beleza falar através do zumbido da vida cotidiana e que partem com admiração e respeito por esta singular cidade de água.
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