Ao longo das costas calcárias do Adriático, da Dalmácia até Kvarner, poucos frutos do mar despertam sentimentos tão fortes quanto as conchas de tâmaras, ou prstaci. Esses bivalves longos e cilíndricos (Lithophaga lithophaga) passam décadas escavando túneis na rocha costeira, o que confere à sua carne uma mineralidade densa e quase adocicada. Por gerações, as famílias costeiras as apreciaram como uma iguaria rara: um punhado de conchas cozidas rapidamente com azeite, alho, vinho branco e salsa, geralmente consumidas em casa em vez de em restaurantes.
Essa história carrega uma sombra pesada. Para extrair as conchas das tâmaras, as rochas precisam ser rachadas ou quebradas, deixando falésias marcadas e leitos marinhos nus onde antes viviam comunidades vivas. Biólogos marinhos demonstraram que essa prática aplaina habitats subaquáticos complexos e os transforma em superfícies estéreis dominadas por algumas poucas espécies resistentes. Por esse motivo, as conchas das tâmaras são agora estritamente protegidas pela Diretiva Habitats da UE e outros acordos, e a coleta é proibida em grande parte da costa do Adriático.
Este prato trata o prstaci como parte importante da memória culinária, e não como um mero item da lista de compras. O método e o perfil de sabor provêm de preparações tradicionais de conchas de tâmaras e outros mariscos da costa da Dalmácia, enquanto a receita em si utiliza pequenos moluscos colhidos de forma sustentável, como o vongole ou o molusco-tapete. O objetivo é simples: manter o caráter do molho e o cozimento muito rápido que os habitantes locais associam ao prstaci, ao mesmo tempo que se utiliza mariscos que podem ser colhidos sem quebrar rochas ou danificar recifes protegidos.
O sabor reside no encontro da salmoura, do alho e das ervas frescas. As amêijoas trazem um caldo limpo e rico em sabor marinho que se acumula na panela; o azeite e um pouco de manteiga complementam o prato; o alho e a pimenta conferem um toque sutil. Um toque de vinho branco realça o molho, enquanto a salsa picada adiciona uma nota verde e ligeiramente amarga que equilibra a riqueza do prato. O molho adere delicadamente a cada concha, e a farinha de rosca torrada engrossa o caldo o suficiente para ser absorvido pelo pão grelhado.
Em casas litorâneas, uma panela como esta costuma aparecer no início de um almoço demorado: primeiro um prato de frutos do mar, depois um peixe grelhado na brasa, talvez uma salada de tomates e cebolas, e uma fatia de pão para aproveitar até a última gota. Ela se encaixa perfeitamente nesse papel, mas funciona igualmente bem como um prato pequeno e prático para uma refeição de frutos do mar durante a semana. Depois que as amêijoas estiverem de molho e os temperos picados, o cozimento em si leva menos de dez minutos.
Esta versão mantém a lista de ingredientes curta e clara. A base é semelhante à preparação clássica de frutos do mar ao estilo buzara, comum em toda a costa croata: azeite, alho, salsa, vinho e, às vezes, farinha de rosca. Aqui, o fogo permanece moderado, permitindo que o alho amacie sem ficar amargo e que as amêijoas cozinhem no vapor até abrirem. Um cozinheiro atento a esses dois pontos obtém frutos do mar aveludados e um molho de sabor puro que reflete o mar em vez de o mascarar.
Um último ponto importante para qualquer receita contemporânea que faça referência a conchas de tâmaras: pedir ou consumir prstaci em regiões onde a pesca é proibida apoia diretamente a pesca destrutiva e o comércio ilegal. Os cozinheiros modernos que valorizam a cultura gastronômica do Adriático podem honrar o lugar deste prato nessa história, escolhendo amêijoas pescadas legalmente e de forma responsável, e tratando-as com o mesmo cuidado que antes era reservado às próprias conchas de tâmaras.
Nota importante sobre o patrimônio histórico: As versões tradicionais deste prato utilizavam conchas de tâmaras (Lithophaga lithophaga). A pesca desta espécie é proibida em grande parte do Adriático devido aos graves danos causados aos habitats rochosos. Esta receita recria o sabor e o método utilizando amêijoas pescadas de forma legal e sustentável, e não deve ser preparada com conchas de tâmaras.