Shiraz

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Aninhada aos pés das Montanhas Zagros, Shiraz se estende por uma planície verdejante banhada por um riacho sazonal conhecido em persa como Rudkhaneye Khoshk, ou "Rio Seco". Embora seu leito permaneça seco durante grande parte do ano, esse canal natural há muito tempo traça o curso da sorte da cidade, atraindo comerciantes, poetas e peregrinos para seu entorno. Entrar em Shiraz é adentrar uma crônica viva, escrita nas paredes de terracota de suas cidadelas, nas sombras de seus jardins perfumados e na caligrafia paciente de seus poetas. Ao longo de milênios, Shiraz nutriu linhagens de estudiosos e artesãos, mesmo tendo resistido a mudanças dinásticas e transformações modernas. Seu espírito, ao mesmo tempo modesto e profundo, perdura na dignidade silenciosa de antigas mesquitas, nas arcadas de bazares movimentados e na eloquência silenciosa de seus poetas sepultados.

O próprio nome Shiraz ressoa através da antiguidade. Como Tiraziš, o assentamento aparece em tábuas de argila elamita datadas de cerca de 2000 a.C., atestando sua importância nas margens dos reinos orientais da antiga Mesopotâmia. No entanto, foi sob a dinastia sassânida, em algum momento do início do século V d.C., que a cidade assumiu sua estrutura fundamental, cercada por robustas muralhas projetadas para proteger a fronteira da Pérsia. Menos de dois séculos depois, em 693 d.C., o Califado Omíada empreendeu a restauração de Shiraz, afirmando seu valor estratégico e econômico.

Durante o século IX, a nascente linhagem safárida, baseada no Sistão, reconheceu Shiraz como um centro comercial fundamental, ligando os portos do Golfo Pérsico ao interior. Os príncipes buídas subsequentes, que ascenderam ao poder no final do século X, elevaram Shiraz ainda mais, estabelecendo-a como sua capital e patrocinando a construção de grandes mesquitas e caravançarais. No final do século XI, a reputação da cidade em termos de erudição começou a se espalhar, atraindo estudantes e clérigos de todo o mundo islâmico.

O século XIII marcou um capítulo luminoso na história cultural de Shiraz. Sob governadores locais como Atabak Abubakr Saʿd ibn Zangy (r. 1231–1260), a cidade desfrutou de um raro interlúdio de estabilidade. Esse clima provou ser fértil para as letras e a filosofia. Saadi, nascido em Shiraz no início do século XIII, viajou muito – para Nizamiyya, em Bagdá, e além –, retornando na velhice para refletir sobre a humanidade em obras repletas de empatia. Seu túmulo, silenciosamente aninhado sob ciprestes ao norte da cidade, atrai aqueles que buscam consolo em versos que exaltam tanto a dignidade do trabalho quanto os laços de companheirismo.

Hafez, outro poeta lendário de Shiraz, percorreu suas ruas no século XIV, transmutando o amor terreno e o anseio espiritual em quadras de nuances requintadas. Seus versos, celebrados por místicos e monarcas, conservam uma capacidade extraordinária de falar diretamente ao momento presente. Visitantes ainda se reúnem em seu túmulo para ler sob o céu iluminado pela lua, buscando orientação em poemas que brilham com paradoxos.

Além da poesia, Shiraz nutriu polímatas. Qutb al-Din al-Shirazi, por exemplo, escreveu tratados sobre astronomia, medicina e matemática, chegando a especular sobre os movimentos dos corpos em torno de um sol central. Sua erudição exemplificou um ethos mais amplo em Shiraz: o de que a investigação e a criatividade eram pilares inseparáveis ​​da vida cívica.

Situada a cerca de 1.500 metros acima do nível do mar, Shiraz desfruta de uma vista privilegiada que ameniza o calor de sua latitude. Os verões ainda podem atingir máximas médias acima de 38 °C em julho, mas a altitude traz noites mais frescas. Os invernos trazem temperaturas que caem abaixo de zero, e a precipitação anual da cidade — cerca de 320 milímetros — ocorre principalmente entre dezembro e fevereiro. No entanto, a variabilidade permanece uma constante. Em alguns anos, fortes chuvas de inverno desencadearam inundações repentinas, mais tragicamente em março de 2019, quando torrentes repentinas ceifaram vidas e destruíram casas. Por outro lado, períodos prolongados de seca testaram tanto os reservatórios quanto o sistema centenário de qanat da cidade.

O contraste marcante entre dias escaldantes e noites geladas não só molda a arquitetura de Shiraz — varandas profundas e grossas paredes de tijolos de barro remetem a antigas estratégias de regulação térmica — mas também seus jardins. Aqui, carvalhos outrora cobriam as encostas circundantes e, hoje, palmeiras e árvores frutíferas ladeiam avenidas e pátios, criando microclimas que sustentam a vegetação durante as estações mais rigorosas.

De menos de 200.000 habitantes no primeiro censo nacional, em 1956, Shiraz cresceu para quase dois milhões em 2021. O crescimento da cidade abrange o moderno subúrbio de Sadra, que abrigava cerca de 1,8 milhão de habitantes em 2016 e quase dois milhões na contagem mais recente. Etnicamente, Shiraz é predominantemente persa, com sua lírica vernacular pontuada por expressões idiomáticas regionais.

Embora a maioria pratique o islamismo xiita duodecimano, Shiraz preserva uma tapeçaria de religiões minoritárias. Uma comunidade judaica outrora vibrante, com cerca de 20.000 habitantes no início do século XX, emigrou em grande parte em meados do século, mas ainda existem três sinagogas ativas. A Fé Bahá'í reivindica seu segundo maior número de seguidores urbanos aqui, depois de Teerã. Duas igrejas — uma Apostólica Armênia e a outra Anglicana — atendem a uma população cristã pequena, mas firme. Essa coexistência, estratificada ao longo dos séculos, confere a Shiraz um senso de pluralismo espiritual raro em cidades de tamanho comparável.

A economia de Shiraz há muito tempo gira em torno das planícies circundantes. No final do século XIX, a abertura do Canal de Suez permitiu que manufaturas europeias inundassem os mercados persas. Os agricultores locais responderam voltando-se para culturas comerciais – papoula, tabaco e algodão – exportando pelas rotas de caravanas de Shiraz para Bandar Abbas e além. Comerciantes estabeleceram postos avançados de Bombaim a Istambul, entrelaçando a riqueza agrícola de Fars em redes globais.

Hoje, a base econômica da cidade permanece diversificada. Uvas, frutas cítricas, algodão e arroz continuam a florescer no interior da província, enquanto as indústrias urbanas abrangem cimento, açúcar, fertilizantes, produtos de madeira, metalurgia e a tecelagem de tapetes e kilims. Uma refinaria de petróleo destaca o papel de Shiraz no processamento nacional de energia, enquanto a fabricação de eletrônicos — responsável por mais da metade do investimento eletrônico do Irã — ancora sua ambição de alta tecnologia. A Zona Econômica Especial de Shiraz, estabelecida em 2000, atraiu empresas de comunicações e microeletrônica, e o varejo floresceu com mais de 25 shopping centers e dez bazares tradicionais. O Complexo do Golfo Pérsico, no extremo norte da cidade, se destaca como um dos maiores centros varejistas do mundo em número de lojas, atraindo compradores de todo o Oriente Médio.

Nenhuma descrição de Shiraz pode omitir seus jardins, que os moradores consideram o oxigênio da vida da cidade. O Jardim Eram, com sua diversidade botânica e seu elegante pavilhão da era Qajar, continua sendo um símbolo da arte hortícola. O Jardim Afifabad, antigamente uma propriedade privada, agora oferece ao público um vislumbre do paisagismo do século XIX em meio a imponentes ciprestes. Embora a expansão urbana ameace alguns espaços verdes históricos, os esforços municipais buscam salvaguardar esses legados vivos.

A cena culinária de Shiraz reflete sua riqueza agrícola. Sob um céu limpo, os mercados transbordam de uvas ainda orvalhadas do amanhecer, romãs perfumadas e arroz com toque de açafrão. Embora a proibição oficial restrinja o consumo de álcool, a reputação medieval da cidade pelo vinho Shiraz sobrevive na tradição local, e xaropes e sorvetes sem álcool trazem traços daquelas safras passadas. O artesanato — mosaicos triangulares incrustados, filigranas de prata e tapetes ricamente coloridos — atestam uma cultura material que preza tanto a precisão quanto a poesia.

A paisagem urbana de Shiraz combina a reverência medieval com a elegância qajar. A Mesquita Atigh Jameʿ, frequentada pelos buídas, ancora o centro histórico com sua austera alvenaria. Perto dali, a Mesquita Vakil e seu balneário adjacente personificam o artesanato do século XVIII sob o reinado de Karim Khan Zand, cuja cidadela — Arg de Karim Khan — ainda se ergue por trás de imponentes torres de tijolos. À luz do amanhecer, os nichos de vitrais da Mesquita Nasir al-Mulk espalham tons prismáticos pelos pisos de mármore, um testemunho vívido da invenção da era qajar.

Guardando a estrada principal, o Portão do Alcorão abrigou dois Alcorões manuscritos em sua câmara superior; esses manuscritos agora residem no Museu Pars, e sua caligrafia é uma bênção silenciosa para os viajantes. Além dos limites urbanos, as encostas do Monte Babakuhi abrigam o túmulo de Baba Kuhi, enquanto o mausoléu esculpido na montanha de Khaju e Kermani oferece vista para trilhas sinuosas. Uma curta viagem de carro leva os visitantes ao Palácio de Ardashir — fundado em 224 d.C. — e às fortalezas de Sarvestan e Dezh Dokhtar, cada uma delas um fragmento remanescente da ambição sassânida.

Maravilhas naturais também acenam. A Cachoeira Margoon, ao norte, na província de Fars, desce por desfiladeiros verdejantes. O Lago Maharloo, a uma hora de carro a sudeste, brilha em tom rosado quando as algas vermelhas da maré florescem, lembrando que até mesmo as salinas da região podem oferecer um espetáculo inesperado.

As artérias modernas de Shiraz ecoam suas rotas da era das caravanas. O Aeroporto Internacional Shahid Dastgheib de Shiraz, o maior do sul do Irã, conecta a cidade a centros domésticos e regionais. Desde 2001, o projeto do Metrô de Shiraz construiu linhas subterrâneas — a primeira ligando o aeroporto aos distritos centrais — e os planos preveem seis linhas no total, acomodando dezenas de milhares de passageiros diários.

À primeira vista, as faixas de ônibus rápidos (BRT) atravessam avenidas arteriais, enquanto cerca de setenta linhas de ônibus estendem o serviço aos subúrbios. A estação ferroviária da cidade, a maior do país em extensão territorial, despacha trens para o norte, para Teerã e além, traçando uma rota que antes era percorrida por caravanas puxadas por cavalos. Juntos, esses modais afirmam o papel de Shiraz não apenas como um centro cultural, mas também como um fulcro econômico que conecta o sul do Irã às suas paisagens mais amplas.

Em Shiraz, os contornos em camadas da história convergem com a imediatez da vida cotidiana. Um olhar para as fachadas de azulejos ou a fragrância de uma flor que desabrocha à noite podem evocar séculos de memória, assim como uma manhã fresca nos jardins convida à reflexão sobre a promessa do presente. Aqui, os poemas de Hafez e Saadi continuam a ressoar nas mesmas paredes por onde os clientes outrora caminhavam, lembrando visitantes e moradores que em cada pátio organizado existe uma medida do infinito. Apesar de todo o seu crescimento e modernização, Shiraz mantém um ritmo comedido — que honra o passado sem se render a ele, que nutre tanto a videira quanto a poesia, e que abre suas portas a cada amanhecer para aqueles em busca da beleza tecida através do tempo.

Rial iraniano (IRR)

Moeda

c. 2000 a.C.

Fundada

+98 71

Código de chamada

1,869,001

População

240 km² (93 milhas quadradas)

Área

persa

Língua oficial

1.500 m (4.900 pés)

Elevação

IRST (UTC+3:30)

Fuso horário

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