Daca

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Daca, uma cidade de profundezas estratificadas, ergue-se das planícies baixas do Delta do Ganges com uma energia inquieta que contrasta com seus horizontes planos. Desde seus primeiros assentamentos no primeiro milênio até seu status atual como o coração de Bangladesh, essa expansão urbana teve muitas faces: um modesto posto avançado ribeirinho, uma joia mogol, uma sede provincial britânica e agora uma megacidade pulsante com mais de 10 milhões de habitantes em seu núcleo e quase 24 milhões em seus limites metropolitanos. Suas ruas e canais carregam a marca de séculos — cada curva do rio Buriganga, cada aglomerado de tijolos mogóis desbotados, narra silenciosamente a passagem da cidade através do tempo.

A vinte e três graus de latitude norte, Daca situa-se pouco acima do nível do mar, com seu terreno como um tapete de vegetação tropical sobre solos deltaicos úmidos. Sempre que as chuvas de monção caem — muitas vezes com ferocidade repentina —, a orla de manguezais e planícies lamacentas da cidade se aproxima, e os afluentes que delimitam os limites de Daca — o Buriganga a sudoeste, o Turag ao norte, o Dhaleshwari e o Shitalakshya a leste — transbordam de água. Com cerca de 676 lagoas e quarenta e três canais que serpenteiam seus domínios, quase dez por cento do solo de Daca é líquido. Os rios moldam a vida cotidiana: pequenas balsas deslizam entre as docas da Velha Daca, transportando comerciantes e estudantes, enquanto, além do centro, embarcações maiores navegam pelas rotas para Narayanganj e além. No entanto, os rios também carregam o fardo dos resíduos da humanidade; em 2024, o Buriganga era conhecido como um dos cursos de água mais poluídos do país, com suas margens cobertas de sedimentos e contaminadas por efluentes não tratados.

Ecos do esplendor Mughal

No início do século XVII, o Império Mughal reconheceu o potencial de Daca e a elevou à categoria de capital provincial: Jahangirnagar, nomeada em homenagem ao Imperador Jahangir. Ao longo de setenta e cinco anos de domínio Mughal, a cidade se transformou em um polo de produção de musselina — um algodão etéreo reverenciado dos mercados otomanos às cortes europeias — e atraiu comerciantes da Pérsia, da Ásia Central e de outros lugares. Palácios e fortalezas erguiam-se em meio a jardins cuidadosamente cuidados, enquanto mesquitas, como o ornamentado Santuário de Lalbagh, ostentavam as curvas refinadas do design Mughal. As ruas de Daca, então estreitas vielas de terra batida, ecoavam com o barulho das carroças puxadas por cavalos e o zumbido dos artesãos teciam os tecidos mais finos. A riqueza invadia os bairros de elite da cidade, onde príncipes e descendentes imperiais mantinham residências, enquanto pequenos bazares transbordavam de esculturas em marfim, especiarias e tecidos destinados a portos tão distantes quanto Surat e Londres. Apenas Veneza era comparada a Daca por sua rede de canais — uma comparação que demonstrava tanto sua importância estratégica quanto sua reputação mercantil.

Estratos coloniais e instituições modernas

Quando os britânicos assumiram o controle no final do século XVIII, introduziram camadas de tecnologia e governança que começaram a alterar a estrutura da cidade. As máquinas a vapor chegaram primeiro a Motijheel, transportando carvão para abastecer indústrias em expansão. A eletricidade cintilava nos postes de luz na virada do século XX; linhas ferroviárias serpenteavam pelos pôlderes vizinhos, ligando Daca a Calcutá e Chittagong. Faculdades de estilo ocidental e os primeiros cinemas surgiram, enquanto o sistema hidráulico levava abastecimento encanado a metade do município. Em 1905, Daca foi designada capital da efêmera província de Bengala Oriental e Assam, consolidando seu papel administrativo. No entanto, sob o Raj, as vielas estreitas da Velha Daca mantiveram ofícios seculares: padeiros ainda moldavam argila em fornos a carvão e curtidores trabalhavam couros em cubas abertas.

Uma Capital Reforjada pela Independência

A partição de 1947 colocou Daca no coração do Paquistão Oriental. As instituições da cidade — tribunais, secretarias e universidades — expandiram-se ao longo da malha que caracteriza grande parte da Daca moderna. Em 1962, o recém-construído Jatiya Sangsad Bhaban, projetado por Louis Kahn, tornou-se a sede legislativa do Paquistão: um monólito de concreto armado cujos vazios e blocos evocam tanto canais de água quanto fóruns antigos. Quando Bangladesh emergiu em 1971, esse mesmo salão tornou-se o núcleo de uma nação nascente. Em 2008, a cidade de Daca completou quatro séculos de sua fundação formal — um testemunho de sua pulsação duradoura, apesar da agitação social, das inundações e do rápido crescimento populacional.

Um tecido de indústria e informalidade

Hoje, a Grande Dhaka responde por mais de um terço do PIB de Bangladesh. Seu horizonte é um mosaico de torres corporativas — entre elas, a sede da Grameenphone — e oficinas lotadas onde os têxteis, o principal produto de exportação do país, são cortados, costurados e empacotados para embarque global. No entanto, essa prosperidade moderna convive com vastas redes informais: vendedores ambulantes vendem potes de barro ao lado de butiques com fachadas de vidro; puxadores de riquixás serpenteiam pelo trânsito matinal nas vielas sinuosas da Velha Dhaka; e quase oitocentos mil trabalhadores da indústria têxtil mantêm teares zumbindo em fábricas abarrotadas. As favelas, estimadas em cerca de três a cinco mil habitantes em toda a cidade em 2016, abrigam cerca de trinta por cento da população, e suas vielas improvisadas carecem de saneamento básico. Água e eletricidade costumam chegar de forma imprevisível; famílias compartilham torneiras e latrinas comunitárias. O ritmo de recém-chegados — migrantes atraídos pela promessa de trabalho — supera a capacidade da cidade de estender os serviços básicos.

Mosaico Cultural e Patrimônio Imaterial

O povo de Dhaka é tão diverso quanto seus rios. A comunidade nativa "dakaita" preserva um dialeto bengali urbano, enquanto refugiados biharis de língua urdu e grupos tribais — rohingya, santhal, khasi — contribuem com suas vozes para o coro da cidade. O islamismo predomina, abraçado por dezenove milhões de habitantes, embora minorias hindus, cristãs, budistas e ahmadiyas animem templos, igrejas e mesquitas. Todo mês de fevereiro, a Feira do Livro de Ekushey transforma os gramados do campus em uma celebração de um mês de língua e memória, homenageando os mártires de 1952 que exigiram o reconhecimento do bengali. Em abril, as procissões de Pohela Baishakh se desenrolam em explosões de cores: mulheres vestem saris com bordas vermelhas, bandas de metais anunciam o ano-novo e dançarinos de rua rodopiam sob as marquises de riquixás pintados. A UNESCO reconheceu a tecelagem Jamdani de Dhaka, seu desfile de Ano Novo e a arte ornamentada dos riquixás como legados frágeis — práticas que ancoram a vida moderna a séculos de artesanato e rituais comunitários.

Sabores de uma Capital

Nenhum relato de Dhaka está completo sem seus aromas. Ao amanhecer, carroças empurram panelas fumegantes de nihari — ensopado de carne apimentado — para as vielas da Velha Dhaka, onde estudantes e trabalhadores fazem fila, com colheres tilintando contra as tigelas de latão. O Kacchi Biryani, um prato de arroz em camadas, perfumado com açafrão e cravejado de batatas cozidas com cabra, tem suas origens nas cozinhas nababas; o Fakhruddin's, um dos estabelecimentos mais antigos da cidade, ainda serve pratos repletos de aromas. O Murag Pulao e o Ilish Pulao oferecem variantes de frango e hilsa, cada uma com infusão regional. O Borhani, um refresco à base de iogurte temperado com pimentas verdes e sementes de mostarda, acompanha esses banquetes. Em meio aos gritos dos vendedores ambulantes, as barracas vendem khichuri durante as tardes de monção, o mingau fumegante um conforto no calor úmido.

Monumentos de Pedra e Aço

A arquitetura de Dhaka abrange cinco séculos. A Mesquita Binat Bibi, de 1454, em Narinda, é o edifício de tijolos mais antigo da cidade, modesto em escala, mas rico na pátina de terracota desgastada pelo tempo. Os caravanserais da antiga Dhaka — Bara e Choto Katra — outrora fervilhavam de comerciantes e cavalos; agora, seus arcos desmoronam sob um emaranhado de varais de roupa. Edifícios da era britânica em Ramna, como o Curzon Hall, combinam a imponência imperial com motivos Mughal. Em Sher-e-Bangla Nagar, o complexo do parlamento ocupa duzentos acres: piscinas em forma de I refletem painéis de concreto perfurados por vazios geométricos. Torres contemporâneas erguem-se em Gulshan e Banani, com fachadas de vidro refletindo o céu tropical. Mesmo assim, um coro de ativistas do patrimônio histórico alerta para a expansão da "selva de concreto": enquanto guindastes pontilham o horizonte, a sobrevivência de pátios estreitos e afrescos desbotados torna-se precária.

Labirintos do Movimento

O congestionamento define as ruas de Dhaka. Os riquixás de bicicleta — mais de 400.000 no pico — são o meio de transporte mais visível da cidade; todas as manhãs, eles saem em leque dos depósitos, com os passageiros amontoados entre assentos de madeira. Os riquixás de automóvel movidos a gás natural comprimido oferecem uma alternativa mais rápida, embora mais cara. Os ônibus — antes os BRTC Routemasters — atendem 1,9 milhão de passageiros diariamente (em 2007), mas sua frota está fragmentada entre operadores privados. No final de 2024, a linha Bus Rapid Transit de Gazipur ao centro da cidade promete reduzir a demora de quatro horas para quarenta minutos. A linha inaugural do Metro Rail foi inaugurada em dezembro de 2022 — a primeira na maior cidade do Sul da Ásia sem um sistema de transporte rápido de massa. À frente, há mais cinco linhas e propostas para metrô e trens orbitais. Enquanto isso, a Via Expressa Elevada de Dhaka passa por cima de artérias congestionadas, e sua extensão Ashulia, prevista para 2026, visa conectar os subúrbios ao centro da cidade.

Portais Globais e Bairros Diplomáticos

Quinze quilômetros ao norte do centro, o Aeroporto Internacional Hazrat Shahjalal movimentou mais de 11 milhões de passageiros em 2023, muito além de sua capacidade de oito milhões — uma deficiência que o novo Terminal 3, com inauguração prevista para outubro de 2024, suprirá com doze pontes de embarque e dezesseis esteiras rolantes. Na cidade, cinquenta e quatro embaixadas se concentram em Gulshan e Baridhara, onde avenidas arborizadas escondem enclaves diplomáticos. Agargaon abriga escritórios da ONU, Banco Mundial e BAD; Segunbagicha abriga o Tribunal Superior e o Ministério das Relações Exteriores; Sher-e-Bangla Nagar abriga os ministérios da defesa e do planejamento. O Exército, a Marinha e a Força Aérea de Bangladesh mantêm quartéis-generais em acantonamentos espalhados por Mirpur e Tejgaon.

Desafios e Perspectivas

O rápido crescimento impõe uma pressão aguda sobre a infraestrutura de Dhaka. O abastecimento de água, a eletricidade e o saneamento estão cronicamente aquém da demanda crescente. A qualidade do ar sofre com as emissões veiculares e industriais; em 2024, a cidade estaria entre as vinte mais poluídas do mundo. Inundações, agravadas pelo afundamento do solo e pela drenagem inadequada, ameaçam bairros baixos a cada monção. No entanto, os planejadores urbanos buscam alívio por meio de incentivos fiscais para o desenvolvimento além do núcleo urbano, com o objetivo de dispersar a indústria e a habitação. Enquanto isso, a expansão dos serviços de compartilhamento de viagens — Uber, Pathao — começou a remodelar os padrões de trânsito, mesmo com o transporte informal persistindo como um pilar dos meios de subsistência locais.

Desafios e Perspectivas

A essência de Dhaka reside nos contrastes: mesquitas Mughal em ruínas erguem-se ao lado de torres de vidro; os ricos tomam chá em clubes vigiados enquanto um quarto da população habita assentamentos improvisados; barcos fluviais deslizam sob viadutos de concreto. A cada amanhecer, trabalhadores saem de suas casas em ruínas para as fábricas que movimentam a economia nacional; a cada noite, a cidade transborda com aromas de comida de rua e o ritmo vibrante dos raios dos riquixás. Em festivais e sermões, em salas de aula e mercados, os moradores de Dhaka forjam uma identidade compartilhada, que abraça a herança ao mesmo tempo em que se adapta às incessantes demandas da vida moderna. Esta é uma metrópole que respira história e esperança — uma cidade nem estática nem totalmente à vontade, mas sustentada por uma vitalidade duradoura que percorre cada viela estreita e cada avenida larga.

Taka de Bangladesh (BDT)

Moeda

1608

Fundada

+880 (País), 2 (Local)

Código de chamada

23,935,652

População

306,4 km² (118,3 milhas quadradas)

Área

bengali

Língua oficial

4 m (13 pés)

Elevação

BST (UTC+6)

Fuso horário

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